Desde o início da minha carreira como programador, nunca vivi uma época tão cômoda para programar como a atual. Hoje, temos acesso a um conhecimento refinado ao toque dos dedos. Dúvidas que antes consumiam horas, senão dias, de pesquisa são respondidas instantaneamente com uma simples pergunta. Por outro lado, há uma infinidade de sistemas baseados em inteligência artificial que estão realizando, por valores irrisórios, grande parte do nosso trabalho de forma quase autônoma. Eles geram códigos, sites, sistemas, analisam dados, entre outras tarefas. Tudo o que precisamos fazer é explicitar exatamente o que queremos e ter paciência (muita paciência) para instruí-los a corrigir o que não funciona ou refazer tudo uma, duas, dez vezes, até que o resultado esteja conforme o esperado. A culpa não é 100% deles; afinal, ainda não aprendemos a "pedir direito". Estamos apenas no início de uma nova era tecnológica, e essas ferramentas ainda estão longe da perfeição, assim como nós. No entanto, elas já indicam o que está por vir. E isso pode representar uma ameaça para muitas profissões, pelo menos como as conhecemos hoje.
Há muitos anos, li um artigo no blog do visionário psicólogo e educador Pierre Weil que dizia, mais ou menos, que chegaria um tempo em que apenas 20% da população mundial trabalharia, enquanto o restante se dedicaria à arte e aos estudos. Esse seria o grande desafio dos economistas do futuro. Já vemos nas mídias que empresas como a Tesla pretendem criar exércitos de robôs humanoides. Em breve, esses robôs estarão realizando grande parte do trabalho braçal que hoje sustenta uma parcela significativa da população. Nessa disputa, os humanos saem em grande desvantagem, pois robôs não tiram férias, não engravidam, não exigem décimo terceiro salário e trabalham de sol a sol, de domingo a domingo, parando apenas para o "cafezinho" (recarregar as baterias). Do outro lado, drones controlados por inteligência artificial já explodem tanques de guerra. Isso não é ficção; está acontecendo agora.
É fato que nossa evolução como seres humanos, no melhor sentido do termo — como sociedade, como civilização, está anos-luz atrás da evolução tecnológica, avançando a passos de tartaruga. No entanto, caminhamos, e novas profissões estão surgindo. De acordo com relatórios como o Future of Jobs, do Fórum Econômico Mundial, estima-se que 65% das crianças que entram na escola hoje vão trabalhar em profissões que ainda não conhecemos. Infelizmente, em um mundo onde o maior movimento religioso é o "Ciencianismo", muitos valores estão invertidos. Não vou tecer críticas para não cair em pecado, mas vejamos, por exemplo, a profissão de catador de recicláveis. Se essa ocupação fosse valorizada, as pessoas iriam aos confins em busca de material reciclável. Empresas poderiam retirar lixo do fundo do mar. E se os catadores recebessem bônus por trazerem resíduos não recicláveis para serem depositados em locais apropriados? Percebe como os valores estão invertidos em relação às prioridades?
Mas enfim...
Inspirado em Domenico De Masi, que chegou a uma conclusão animadora no livro Ócio Criativo, acredito que, em um futuro não muito distante, passaremos a embelezar a Terra. Minhas previsões são otimistas, desde que estejamos dispostos a aprender e praticar na velocidade com que a informação nos chega hoje. No entanto, há um detalhe: as redes sociais! As Big Techs por trás delas preferem que fiquemos assistindo a bobagens e anúncios dia e noite, em vez de focarmos no que realmente importa: nossa carreira. Eu não sei você, mas prefiro fazer parte dos 20% que trabalha... O sistema, como o conhecemos hoje, não costuma ser gentil com quem não trabalha.